segunda-feira, 24 de agosto de 2020
O carro, A justiça e a Imperatriz, todo mundo junto
Essas foram as cartas de sabado, domingo e segunda, respectivamente. Eu não tive tempo de escrever no final de semana, Daniel fez 24h de plantao de sexta pra sabado e mais 24h de ontem pra hoje, logo a casa, as crianças, o planejamento, tudo ocupou mto tempo e nao rolou escrever. Pois bem, vou tentar resumir e contar uma histórinha de epifania ainda. Sabado foi uma bosta. O começo é sempre mais bosta mesmo. Tentei ser o mais leve possível com as crianças, mas eu tava exausta, com preguiça e sem vonta de de existir. O dia até que não foi dos piores ( amém sol que voltou a brilhar), mas de tarde o Vic dormiu e eu acabei cochilando junto. Tive a merda da paralisia do sono e fiquei presa sem conseguir acordar mto mto mto tempo. Indo e voltando pra algum sonho bizarro, acordando sem conseguir acordar de verdade, quando enfim despertei já eram 16:40h e isso era um prenuncio de noite de merda. Que foi - de fato - mas nao por causa do Vicente, que até dormiu bem - e sim por causa dos mais velhso que alopraram e ficaram gritando por tudo no meio da noite. Enfim. Esse foi meu dia do carro (que foi retirado de noite). No domingo, Danie chegou cedo, consegui dormir um cado mais, tive uma manhã maravilhosa com mariducho, e acabou que o dia fluiu bem. A noite foi um cado frustrada, pq eu pretendia por o bebe pra dormir cedo e ficar fazendo coisas de noite, mas não rolou e dormir também. Mas tudo bem, foi melhor já. Também tirei minha carta de noite e saiu a Justiça.
Mas agora vem o papo que nao tem nada a ver com a história, e que é apenas um insight que eu levei nada mais nada menos que DOZE ANOS PRA TER.
Pois bem, eu tive um amor da vida antes dos meus atuais amores da vida. Um ex namorado que surgiu do nada e que me ensinou a pegar morcego. Que brotou no final da faculdade quando eu já tava um pouco ansiosa porque não conseguia definir o que eu ia fazer depois, e ele me trouxe - junto com o projeto pró morcegos - um reorganizar de rumos. Eu encontrei o campo, o mato, a pesquisa, os morcegos, a minha monografia e um namorado, tudo junto e misturado. E foi um amor TÃO intenso, por todas essas coisas juntas, que eu não conseguiria explicar. Foi a primeira vez que eu senti que eu tinha achado o "felizes pra sempre". Eu dormia do lado da cachoeira e acordava com o sol nascendo, eu fazia pesquisa de campo de verdade, eram 3 noites acampada - as vezes sem barraca - comendo comida no fogareiro e dormindo ao relento com o despertador tocando pra me lembrar de ir na rede pegar os morcegos. E isso era tão perfeito, tão tudo que eu sonhei na vida, que o namorado que veio junto, encaixava tão bem nisso tudo, que eu levei muito tempo pra dissossiar.
Não é papo de ex, porque eu fiz questão de não apagar os registros (pela primeira vez, ja que eu sou a pessoa que queima diários) então se você, leitor desavisado (supondo que existam) voltar aqui nos registros de 2008 vai ver que eu sempre falei da minha "sirene" em relação a esse namoro. Eu sentia um desconforto, uma sensação de " vai dar merda isso", não era uma paz constante. Mas, sim, amei muito, por 3 anos, essa pessoa, que encaixava não só como namorado, mas como personificação de tudo que eu sonhava pra minha vida, de campo, de bióloga, de mar, de natureza, de vida. Era um sonho realizado. Mas, fato é, que o namoro não deu certo. Por mil motivos em algum momento não ia rolar mais. Mas como tirar ele de todo o resto onde ele estava inserido? Como continuar com os morcegos e a pesquisa e retirar só essa parte? Por um tempo não consegui, seguimos trabalhando juntos e foi péssimo. Ele fazia parte da pesquisa que eu ainda estava realizando naquele momento e precisava ser terminada. Tentei ver ele o minimo possivel, mas nem sempre rolou, e sempre doeu. Pesquisa concluída, eu estava grávida, de um outro amor. Que encaixava maravilhosamente bem em um outro sonho meu, o de ter familia e filhos e casa e amor de café da manhã. E aqui, eu tive um puta problema, eu queria a familia, mas eu queria o mato, o campo, o cheiro do alvorecer no meio do nada. Mas eu não conseguia encaixar mais, e aí eu simplesmente chutei a pesquisa, chutei o campo, os morcegos, o mato, chutei tudo. Não dava pra encaixar a gravidez, o bebe, a familhucha no campo. Deixei. Vivi por 3 anos sem pegar num morcego, sem acampar, sem acordar com o nascer do sol. Tendo sonhos e pesadelos e eu sentia TANTA falta que em alguns momentos eu me perguntei se eu sentia falta do meu ex, e ficava tentando elaborar na minha cabeça como poderia ter sido se eu não tivesse terminado e ficado com ele e tudo que ele representava, mas eu nunca consegui criar um universo onde a gente teria sido feliz, não ia, não dava. Mas eu sentia falta e não entendia.
Em 2016 eu resolvi voltar a pesquisar, mudamos de estado, veio o doutorado, a empolgação com o campo, mas não era a mesma coisa. As vezes eu cruzava com alguma informação sobre esse ex no meio do caminho (afinal, mesma área né?) e eu sentia falta de alguma coisa ali, ao mesmo tempo que toda vez eu tinha mais certeza que aquela pessoa não tinha nada a ver comigo e que não tinha mesmo como continuar aquele namoro, alguma coisa fazia falta... mas eu nunca entendi o que era.
2020, pandemia, trancados em casa, meu doutorado virou outra coisa e de novo, nada de campo. A última vez que peguei um morcego foi em janeiro. POIS BEM, eis que mergulhamos de corpo e alma num projeto chamado "tribo na estrada", onde vamos, eu, Dani e os meninos, rodar a América do Sul no nosso carro. Acampando, acordando com o sol, vendo o mar, sentindo o cheiro do vento frio. Vendo coisas que nunca vimos, descobrindo lugares que nunca pisamos. E aconteceu a epifania!!!!!!!! Eu nunca senti falta do meu ex namorado, eu sentia falta daquilo tudo que a gente vivia, dos lugares mágicos que a gente conhecia juntos, do mar, do céu azul gelado, da vida que pulsa cada vez que a gente chega perto da natureza... e eu durante o nosso namoro, lááááá em 2008, misturei tanto um com o outro - a maravilha da natureza e o romance - que quando sentia uma falta absurda, não entendia muito bem do que era. Hoje quando vim aqui abrir o blog pra escrever do final de semana, puxei os textos de 12 anos atrás e tive a confirmação. Meu amor tava sempre entranhado com as cachoeiras, com o cheiro do mato, com dormir sob as estrelas.
Queria agradecer à Camila de 2011, que mesmo sem entender direito, levou em frente o buraco no peito quando terminou esse namoro. Porque de fato não dava mais, e ganhou de presente uma ausência que ela nunca entendeu, mas que ela corajosamente carregou. Acabou. Demorou, mas eu entedi de onde vinha a ausência. Ansiosa por todo cheiro de vida, de mar, de nuvem, de frio que eu ainda tenho pela frente. E hoje é dia da Imperatriz <3
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