quinta-feira, 27 de abril de 2023

Eu sempre achei que escrevia bem, as pessoas elogiavam o que eu escrevia e eu gostava de vir aqui e reler meus textos. Pareciam bons de fato. Eu tive cadernos/agendas/blogs a vida toda, alternando um com o outro e talvez todos ao mesmo tempo em algum período da adolescencia com mais tempo. Com 30 anos abandonei as agendas-diário e migrei pro planner. Mais organização pros meus compromissos e entregas, menos espaço pra elocubrações e devaneios. Não tinha problema, quando eu quisesse escreveria em outro lugar. No fim das contas, ano passado eu senti mais falta de ter um espaço amplo e me dei de presente uma mandala lunar, com receio de nunca usar. Hoje são 27/04 e eu venho anotando meu ciclo e minha vida diariamente. Òtimo. Mas percebi um problema. Eu escrevo mal. Puta merda como as minhas anotações diárias são sofríveis. Esses dias (ja deve ter mais de um mês) eu fui reler minhas agendas antigas em momentos que eu SEI que foram difíceis e doloridos. E tá lá, tudo pela metade, tudo meio por cima.... vez ou outra tem algum relato mais profundo das coisas. Fiquei pensando se não era o espaço. O pequeno espaço de uma agenda as vezes não comporta mesmo tudo que eu tenho pra dizzer. Fiquei pensando se não era vergonha. Não é todo dia que eu gosto de admitir que penso se não deveria ter feito outras escolhas na vida. Não ter tido filhos, me separar, não ter largado aquele emprego, sonhar com o ex. Eu não gosto de alguns desses pensamentos. Em especial porque eu sei que eles não se sustentam. 90% do tempo eu estou muito feliz com os meus filhos, com o meu casamento, com as minhas escolhas profissionais... mas o que são os outros 10%? Pra quem eu conto? O que eu faço com ele? Na prática eu anoto por cima, uso alguma expressão como " muito cansada" " exausta do dia a dia" sem mencionar de verdade que naquele dia eu chorei pq não queria mais os meus filhos. Pq não queria mais o meu casamento, pq me achei a pessoa mais infeliz do mundo. Hoje não é um desses dias. Hoje é um dia sóbrio, faz um vento gelado de outono, o céu ta lindo (me pergunto como demorei tanto tempo pra reparar no céu lindo do outono e no vento frio. Foi o Paraná que me trouxe a delicinha das estações). Hoje eu estou feliz, acordei cedo - definitivamente eu sou uma pessoa da manhã, só preciso dormir melhor pra poder aproveitar mais o dia - deixei Mateus na escola e preciso trabalhar um pouco, entregar um projeto de pós doc (que eu jurei que não faria. Rs), comi ovo com abacate e café preto e a vida parece boa, mas eu fico com esse receio de estar sempre fingindo algo pra mim mesma. Fingindo que as dores não me doem tanto, que eu não tenho lapsos de duvida e rancor. Acho que tem a ver com a morte tb. Eu não queria que - depois de morta - as pessoas ficassem remexendo nos meus escritos, nos meus segredos, exatamente como fazemos com os outros. Não queria que meus filhos lêssem nem por um segundo que eu cogitei achar que minha vida teria sido mais fácil sem eles. Fico aqui então com o desabafo do anonimato e o prazer do espaço. Aqui sem linhas eu posso ficar divagando sobre o fluxo de pensamento aleatório da minha mente, protegida pela certeza de que as pessoas sequer sabem que essa página existe <3 É um prazer afinal de contas.