quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Obrigada

Hoje o dia acordou engraçado. Uma pessoa postou uma foto minha de 2008, da época em que eu fazia parte do CA da Biologia, num evento do movimento estudantil, no instagram, me "procurando". Eu não tinha essa foto. Na verdade eu não tenho nenhuma foto desse evento, e quase seria capaz de duvidar que ele existiu de verdade.. mas surgiu essa, e eu senti tanto orgulho da Camila de 2008!!! Aí eu vim aqui reler um pouco esse blog. E eu senti mais orgulho ainda. Como eu era espontanea, e sincera. Como eu gostava de mim. Como eu sempre me senti tão-tão confortável no meu corpo, na minha vida. Eu tenho poucos arrependimentos. Acho que é porque eu sou sincera comigo mesma, que mesmo quando eu erro (e sim, não me arrepender não signfica que eu não erre) eu consigo me perdoar. Eu li alguns comentários antigos aqui também, e, apesar de tuuuudooooooo, eu sinto um quentinho no meu coração. Ainda guardo pequenos pedacinhos de tudo no meu potinho de lembranças. Queria um dia poder conversar contigo sem toda a dor e mágoa, sem todo o turbilhão de sentimentos. Queria poder só te contar que eu vivi momentos tão lindos quanto todas as estrelas do céu. Que meu coração foi tão quentinho quanto uma tarde de verão. Que eu experimentei uma força da natureza dentro de mim, que me ensinou como os sentimentos podem ser. E que foi lindo. E que causou tanta destruição quanto um tornado pode causar, e que eu não quero - nem de longe - estar no meio disso tudo de novo, mas que valeu a pena. Que eu sobrevivi e valeu a pena. Eu li cada palavra e lembrei de como era tudo de verdade. De como era de verdade dentro de mim... Acho que talvez tenha batido mais forte porque ultimamente eu andei me perguntando se eu estava só representando ou se era tudo de verdade aqui também. Nessa época eu não entendia quando Cazuza dizia " de cada amor tu herdarás só o cinismo", mas depois eu entendi. A gente vai perdendo a fé, perdendo as crenças. A gente vai tomando porrada da vida e deixando de acreditar. Eu não quero. Eu quero cultivar, mesmo que não integralmente, a Camila que era comandada por uma onça no coração. A Camila que tinha um leão medroso que arranhava estomagos, a Camila que tinha uma águia avoada na cabeça. A Camila corajosa. A Camila disposta a enfrentar mares revoltos. Não era você, eu sei. Sempre fui só eu mesma. Mas você ecoava isso. Eu ainda acho que minha alma descansava na sua, eu ainda acho que seu espírito ecoava o meu. Ainda acho que em algum local ao lado de uma cachoeira, num outro universo menos terreno, nossos espíritos brincam... Eu quis muito uma pessoa com quem eu pudesse conversar sem ser julgada, uma pessoa que entendesse tudo de quem eu sou e pra quem eu não precisasse explicar os detalhes, porque ela saberia. Eu descobri que essa pessoa sou eu. Esse lugar é aqui, quando eu escrevo. Eu leio e lembro o que eu sentia. E volta. E eu gosto. Eu gosto de ter cuidado de mim desde sempre.... Li hoje, num post de mais de dez anos atras, que eu escolhi me sentir especial pra não me sentir abandonada. Acho que eu estava certa. Eu fui mesmo abandonada, e por isso eu me tornei especial. Cuidadar de mim mesma é meu superpoder nesse mundo doido. Vamos continuar Camila, obrigada <3

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Dia nove eu estava, muito convicta, olhando locais para trabalhar fora de casa, aceitando que talvez esse fosse o primeiro passo de uma mudança muito maior e cogitando que essa mudança maior poderia envolver sim, uma separação. A vida deu um plot twist carpado e eu - alem de ter conseguido um projeto pra participar - consegui me colocar no mesmo patamar para algumas discussões sobre nosso modelo de relação. Sim, todas as conversas desde o dia nove envolvem choro e dor. Por sorte todas elas também envolvem honestidade e uma vontade de construir as coisas e não de destruir tudo (que era bem o que eu queria no ultimo post, destruir tudo). Eu preciso ser bem honesta aqui comigo mesma, eu precisei me colocar nesse lugar pra conseguir sentir que eu poderia discutir os termos da relação do mesmo patamar. Não ia dar certo, não ia conseguir debater as coisas apenas no campo hipotético e só comigo ferida, só comigo sentindo a dor REAL que eu estava sentindo. Não foi uma vingança, foi uma tentativa de equivaler as coisas, de tirar a armadura de todo mundo. Foi foda, mas foi o que precisava. Eu sei que eu corri grandes riscos dele não aceitar esse formato... nem era uma questão de não me perdoar porque eu sabia que não tinha feito nada de errado - assim como ele também não fez - era uma questão exclusivamente de suportar a dor e lidar com a pessoa real que somos ao invés da pessoa idealizada que construímos para nós mesmos. Eu sei que eu fiz coisas que eu disse que não faria, sei que fiz coisas que eventualmente achei que nem gostaria... mas eu gostei. Eu gostei de poder experimentar, eu gostei de poder ser livre de fato e não apenas livre no discurso. E aí é isso né? Lidar com a realidade nua e crua não é exatamente algo agradável mas funcionou pra gente. Funcionou pra gente poder rever nossos conceitos, pra gente perceber que o buraco da dor é maior do que os argumentos racionais. Gosto de saber que o amo. Mas gosto mais de saber que sigo me amando primeiro

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

ohhh by myseeeellllfffff

Acho que hoje eu tive algum entendimento de certas coisas. Depois de passar um período fodido com a minha avó aqui e me deparando com uma solidão que eu não conhecia, depois viajar pro congresso, com mais uma semana longe das crianças e do Dani, eu acho que descobri uma face minha nova mesmo. A face que QUER ficar sozinha. Não achei que eu era essa pessoa, nem que eu de alguma forma seria em momento nenhum, mas aí hoje to aqui, olhando kitnet, casa, qualquer coisa que eu possa pagar com o meu dinheiro (que dinheiro? Não sei). Engraçado como de repente nem pareceu tão dificil assim. eu posso pagar algo, venho pra cá nos dias que Daniel estiver de plantão, posso dormir com as crianças, não é um problema. Os dias que ele não estiver trabalhando ele fica com os meninos. A gente reveza. Pareceu tão bom. rs. Não precisa ser definitivo, não precisa ser brusco. Não precisa ser nada... eu preciso muito de um espaço.Eu não sei mais se eu to bem nesse modelo de vida, nesse relacionamento, nessa organização que a gente fez. O único problema é que eu não posso conversar sobre isso por enquanto... sexta feira é nosso aniversário de casamento, ta tudo organizado. Não posso atrapalhar tudo... talvez seja uma grande e gostosa despedida dessa vida do jeito que ela é <3

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Cinco de ouros

Hoje é um dia de miséria e o cinco de ouros, minha carta do dia, veio bem a calhar. Minha avó quebrou o femur ha duas semanas atrás. Fez uma cirurgia e passou 7 dias no hospital, nos 4 últimos eu estava lá. Eu poderia escrever mais um novo texto sobre como a minha mãe está fugindo disso tudo de uma maneira doida, de como depois que eu cheguei ela não foi mais ao hospital e de como não quer vir na minha casa. Mas hoje não é sobre isso, isso era esperado. Hoje é sobre o inesperado. Eu sempre achei que eu era de muitas amigas, que eu era sociável e comunicativa, que gostava de muita gente e muita gente gostava de mim. Não é verdade. Fernanda e Tamiris talvez fossem as amigas com as quais eu mais me sentia confortável, com quem eu mais tinha uma rotina, um dia-a-dia. E aí que no dia que eu trouxe minha avó pra casa, depois de ter passado a noite em claro pensando em como seria difícil, cheguei aqui e percebi que seria ainda mais do que eu tinha pensado. Mas não havia o que fazer, era só eu comigo mesma, e aí eu mandei uma mensagem pras duas dizendo que eu estava com medo. E eu estava mesmo, com MUITO medo. Com muito medo de não dar conta. E aí que veio a surpresa: a Fernanda não respondeu. Não respondeu no dia, nem depois, nem em nenhum dia da semana que se seguiu. eu senti um buraco se abrindo. Eu não tinha mais ninguém alem do Daniel pra desabafar. E aí eu fui vivendo esse luto ao longo da semana, quando antes de ontem eu resolvi que eu ia sair do nosso grupo, o nosso grupo que tem, sei lá, uns 10 anos já. Eu não queria mais estar num lugar onde eu não tinha espaço pra ter medo, onde ninguém se importava. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde elas iam vir perguntar o motivo da minha saída e hoje a Fernanda veio... e doeu de novo, e aí vem aquela sensação esquisita de querer muito muito que seja tudo mentira, de querer muito muito deixar pra lá e acreditar em qualquer coisa que ela disser, mas não, eu disse que estava chateada e que não queria conversar e ai ela apenas disse que tudo bem, que ia respeitar. No fim acho que a gente só tem a gente mesma, ou talvez eu não seja tão querida e carismática como eu supus. Talvez eu seja só uma chata... de toda forma, hoje é um dia de luto e miséria.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Talvez eu esteja morrendo

Semana passada eu tive uma dor de cabeça insuportável, e aí meu corpo todo foi ficando meio mole, meio doendo, e eu tive febre. Nem sei ha quanto tempo eu não tinha uma febre. Meu nariz entupiu, meu ouvido doía e em algum momento eu comecei a pensar "talvez eu esteja morrendo". E, não sei se você sabe, se já comentei por aqui, mas eu MORRO DE MEDO de morrer. Morro de medo de morrer e ter algo depois, e eu ter que lidar com esse algo depois. Morro de medo de morrer e não ter porra nenhuma depois e eu tô aqui só existindo nesse mundo a troco de nada. Enfim. Fiquei nessa achando que eu ia morrer e - por algum absurdo, talvez da doença - achei que morrer podia ser ok. Fiquei listando mentalmente tudo que eu ja tinha feito, todos os inúmeros sonhos realizados, os lugares que eu conheci, as pessoas que eu amei. Fiquei pensando no que eu fiz que eu nunca, em tempo algum jamais sonhei. Doutora? Quando que eu ia acreditar que ia chegar tão longe, mesmo com tanta adversidade no caminho. Quando que eu ia achar que seria possível, com um filho no mestrado, outro filho e uma pandemia no doutorado. De repente eu comecei a lembrar que caramba, eu sou pesquisadora de verdade!!!! Como eu quis estar nesse lugar, como eu achei que esse lugar jamais me pertenceria (e acho as vezes até hoje, apesar de seguir aqui).E filhos? E meus partos? Eu lembro até hoje da doideira que foi o Mateus nascer, vir pra mim e eu pensar " então é isso? Eu posso só pegar e levar pra casa?É meu?" E ERA MEU!!!!!! E como eu amei todos os segundos dessa sensação. O tanto de horas que eu passei na minha infancia imaginando como seria ter um bebe dentro da minha barriga e ele mexendo. E como eu tive, e tive mais de uma vez! E casar? E a puta sorte que eu dei nessa existencia de casar com o Dani. De todo dia quando eu deito do lado dele e eu penso "Caralho, e a gente casou e dá conta dessa vida!!!" E que todas as vezes que eu olho pro lado ( e eu olho muito pro lado) eu chego sempre à mesma conclusão de que eu não teria conseguido se não fosse com ele, e essa segurança inexplicável que eu sinto só por ele estar ali. E aí fui pensando em cada coisinha pequena, cada vez que eu vi o mar ou que eu subi uma montanha, cada dia que eu acampei, cada sorriso que eu dei. E no fim, foi isso, cheguei à conclusão de que seu eu morresse eu já tinha feito muito mais do que eu imaginei pra mim mesma. Como vocês podem perceber, não morri. Tomei 10 dias de acetilcisteína com vitam C, o nariz desentupiu, a febre passou e eu sigo aqui, prontinha pra mais um ano <3 Talvez até anime mais um filho, mais uma pesquisa, ou só mais uma praia mesmo. Veremos

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Fim

Eu sempre fui muito boa de encerramentos. A angústia de algo meia-boca me incomoda horrores e eu prefiro lidar logo com o término do que ficar postergando sofrimento, sempre foi assim. Além disso eu gosto de ver o qeu acontece depois do fim, passei a vida toda flertando com o caos da destruição de tudo. Depois do fim, o que vem? O que acontece quando ruir a ultima parede? Ao longo da vida tive que ir deixando de ser assim... acho que começou no mestrado, depois da gestação, a troca de orientador e as mil vezes que eu pensei em chutar tudo e disse pra mim mesma "nananinanão, aqui a gente vai até o finalzinho". E fui. E foi bom também, a sensação de dever cumprido, de conclusão... e aí eu tive os filhos né, não podia desistir nunca. Era chorar trancada no banheiro, respirar fundo e seguir, porque não tinha como fazer nada diferente disso, e acabou refletindo no meu casamento também. Talvez no início eu só não tenha chutado tudo pra cima porque envolvia as crianças, envolvia voltar pra casa da minha avó e eu não queria isso. Até aqui, foi uma decisão boa também, depois de alguns anos as coisas foram se acentando e fez muito mais sentido permanecer do que ir embora. Acho que ao longo dos anos, talvez a maturidade, foi tirando cada vez mais de mim esse flerte com o fim de tudo e eu fui seguindo e gostando desse lado mais constante, só que essa semana eu pulei na finitude das coisas de novo. Encerrei meu ciclo no tecido (pelo menos aqui em resende) com um certo prazer até, o mesmo prazer que eu sempre senti, o prazer da liberdade, do livramento. Junto com isso se foram algumas amizades (que talvez nunca tenham sido amizades, só pra mim), um pequeno vazio que se abre sempre que algo vai embora, mas que me tráz um vento no cabelo das novas possibilidades. Enfim, me joguei de volta no precipício que eu tanto gostava na adolescência, que eu tanto busquei e de onde eu tinha me afastado tanto nos ultimos anos... a vida foi exigindo mais constância, eu fui dando e quase esqueci que eu podia sim, ativamente, encerrar as coisas que não estivessem me fazendo bem. Nem tudo vale a pena ser mantido

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Eu sempre achei que escrevia bem, as pessoas elogiavam o que eu escrevia e eu gostava de vir aqui e reler meus textos. Pareciam bons de fato. Eu tive cadernos/agendas/blogs a vida toda, alternando um com o outro e talvez todos ao mesmo tempo em algum período da adolescencia com mais tempo. Com 30 anos abandonei as agendas-diário e migrei pro planner. Mais organização pros meus compromissos e entregas, menos espaço pra elocubrações e devaneios. Não tinha problema, quando eu quisesse escreveria em outro lugar. No fim das contas, ano passado eu senti mais falta de ter um espaço amplo e me dei de presente uma mandala lunar, com receio de nunca usar. Hoje são 27/04 e eu venho anotando meu ciclo e minha vida diariamente. Òtimo. Mas percebi um problema. Eu escrevo mal. Puta merda como as minhas anotações diárias são sofríveis. Esses dias (ja deve ter mais de um mês) eu fui reler minhas agendas antigas em momentos que eu SEI que foram difíceis e doloridos. E tá lá, tudo pela metade, tudo meio por cima.... vez ou outra tem algum relato mais profundo das coisas. Fiquei pensando se não era o espaço. O pequeno espaço de uma agenda as vezes não comporta mesmo tudo que eu tenho pra dizzer. Fiquei pensando se não era vergonha. Não é todo dia que eu gosto de admitir que penso se não deveria ter feito outras escolhas na vida. Não ter tido filhos, me separar, não ter largado aquele emprego, sonhar com o ex. Eu não gosto de alguns desses pensamentos. Em especial porque eu sei que eles não se sustentam. 90% do tempo eu estou muito feliz com os meus filhos, com o meu casamento, com as minhas escolhas profissionais... mas o que são os outros 10%? Pra quem eu conto? O que eu faço com ele? Na prática eu anoto por cima, uso alguma expressão como " muito cansada" " exausta do dia a dia" sem mencionar de verdade que naquele dia eu chorei pq não queria mais os meus filhos. Pq não queria mais o meu casamento, pq me achei a pessoa mais infeliz do mundo. Hoje não é um desses dias. Hoje é um dia sóbrio, faz um vento gelado de outono, o céu ta lindo (me pergunto como demorei tanto tempo pra reparar no céu lindo do outono e no vento frio. Foi o Paraná que me trouxe a delicinha das estações). Hoje eu estou feliz, acordei cedo - definitivamente eu sou uma pessoa da manhã, só preciso dormir melhor pra poder aproveitar mais o dia - deixei Mateus na escola e preciso trabalhar um pouco, entregar um projeto de pós doc (que eu jurei que não faria. Rs), comi ovo com abacate e café preto e a vida parece boa, mas eu fico com esse receio de estar sempre fingindo algo pra mim mesma. Fingindo que as dores não me doem tanto, que eu não tenho lapsos de duvida e rancor. Acho que tem a ver com a morte tb. Eu não queria que - depois de morta - as pessoas ficassem remexendo nos meus escritos, nos meus segredos, exatamente como fazemos com os outros. Não queria que meus filhos lêssem nem por um segundo que eu cogitei achar que minha vida teria sido mais fácil sem eles. Fico aqui então com o desabafo do anonimato e o prazer do espaço. Aqui sem linhas eu posso ficar divagando sobre o fluxo de pensamento aleatório da minha mente, protegida pela certeza de que as pessoas sequer sabem que essa página existe <3 É um prazer afinal de contas.